17 de maio de 2013

Meses dentro de dias


Eu chorei quase mil dias, nesses dias que um dia parece um mês. Eu chorei porque você me ligava e mais ainda porque você não me ligou. Chorei o dia que você perguntou como eu estava e mais ainda o dia que não perguntou. E hoje mais que nunca, dois meses se passam dentro de um dia. Dentro do meu quarto escuro, iluminado pela televisão ligada que não sei o que se passa, meus pensamentos vão longe. Nem tão longe assim, vão ali no bairro ao lado e muitas vezes aqui na frente com você passando por mim e fingindo não me ver.
A dor tem sido grande. A vontade de sair da escuridão, da solidão, da depressão, tem sido maior ainda. Mas as coisas não são simples como todos pensam. Esquecer alguém não é fácil como engravidar. Tem sido difícil de todos os lados, de todos os ângulos, de todas circunferências, de todos os modos.
Todos os dias eu acordo com você nos meus sonhos. E dentro de mim mais que literalmente falando. Pedi a Deus mais uma vez pra esquecer você, assim como ando esquecendo tantas outras coisas. Mas dentro de mim algo muito vivo me lembra você a cada segundo e já não sei mais o que fazer.
As palavras deixaram de ser bonitas, os sentimentos deixaram de ser claros, os sorrisos deixaram de ser verdadeiros, a dor deixou de ser pequena, a força começou a diminuir, e algo dentro de mim só tende a crescer, até nascer.

(Aryelly Cabral)

29 de abril de 2013

Hoje o dia passou se arrastando.O frio da chuva e o frio da solidão dominaram meu quarto. A saudade aumentou numa proporção inexplicável. Sinto dentro de mim a sensação mais gostosa do mundo, que massagem nenhuma seria capaz de reproduzir. Toco minha barriga e sinto chutes leves, macios, que hoje são os únicos carinhos que consigo receber.

As lágrimas caem e eu choro baixinho pra ninguém ouvir.Meu pensamento nem meu é mais, penso em não pensar em nada e ele insiste em pensar em quem não merece. Tento dormir e sonho com alguém que virou pesadelo. Tento comer e não consigo. Não tem sido fácil ser forte o tempo todo. Mas venho conseguindo.

Hoje meu celular não tocou, não fiz nenhuma ligação. Cada dia venho aprendendo a ser forte, não por mim, mas por você, Anne. Se a mudança não veio de quem deveria, está vindo de mim. Ainda haverá dias como o de hoje, choros baixinho, sem fome, sem sono e com um punhado de saudade e decepção.

Eu poderia te enviar uma mensagem, te ligar, te encontrar... mas te dou meu silêncio, o que hoje tem mais valor.

11 de abril de 2013

Ausência

Quase um ano ausente e posso afirmar que centenas de coisas aconteceram e milhões deixaram de acontecer. Quem acompanhava o blog sabe da dor que passei por perder meu companheiro, mesmo que ex, Michael. Essa dor ainda não passou, mas hoje consigo lembrar dele sem tanto sofrimento.. Óbvio que dói, mas é uma dor suportável. A saudade está acumulada em um ano e quatro meses que é o tempo que já não o vejo, não o ouço e não o toco, não fisicamente, apenas interiormente. Pois hoje ainda consigo sentir seu cheiro, seu toque, ouvir sua voz, olhar seus olhos claros e amá-lo como não sabia que fosse possível.

Seis meses se passaram (junho de 2012) e conheço alguém. Meu coração então sentiu algo que achei não sentiria nem tão cedo. Tentei ser dura, não queria sofrer por amor de novo. Mas como acontece com todo mundo, o sentimento novo falou mais alto que o medo e eu me entreguei. Não por inteiro, confesso, ainda existia algo muito vivo dentro de mim. Haviam diferenças em destaque entre a gente. Mas a vontade dele de lutar por mim e a minha vontade de amar e ser amada fez a gente ir além. Vivemos uma história bonita, até o dia que as brigas estavam mais constantes que as noites de amor. Decidi então acabar.

Dois dias depois descubro algo mágico e assustador, eu estava grávida e solteira. Hoje com quatro meses não sei descrever outra coisa a não ser que mãe é luta desde o dia que se descobre o resultado. Minha vida mudou no momento que vi o reagente no exame. As emoções, as dores, os medos, tudo está a flor da pele. Mas o amor cresce a cada dia, literalmente dentro de mim. Ser mãe solteira tem sido mais dificil que ser "viúva". Quem diria que existe sofrimento maior que a morte. Mas podem acreditar que mais dói aceitar a morte dos vivos que a morte da vida.


Volto em breve com os textos.
Grande beijo,
Aryelly Cabral.

18 de abril de 2012

O que eu não escrevi



"E no meio das inúmeras tentativas em que eu tento – em vão – escrever, 
me antecipa aquela saudade esquisita, que não vai embora nunca... 
E a saudade fica martelando na minha cabeça, me dá uma 
espécie de aperto no peito" (Fernanda C. Mello)



OO que antes era a coisa mais fácil de se fazer, hoje se tornou a mais complicada. Tem sido tão difícil escrever. Abro a página do Word e mil coisas se passam na minha cabeça. Digito uma ou duas frases, as palavras não se encaixam, os sentimentos não são transmitidos e eu me sinto presa dentro de mim mesma. Eu escrevo porque escrever pra mim é quando a dor já não cabe mais no peito e precisa ser compartilhada.  Mas diferente de sempre, não quero compartilhar tristeza, saudade e sentimentos vazios. Quero compartilhar coisas boas. Se você estivesse aqui eu teria tanta coisa pra dizer. Mas agora as palavras são todas repetidas. Em cada frase se encontra saudade. Em cada eu te amo se encontra o desespero de não ser mais capaz de te dizer ao pé do ouvido. Apago o texto, reescrevo e tento transmitir algo de bom. Paro e penso em como seria perfeito se eu pudesse usar a tecla que apaga os erros do meu texto, pra apagar os erros da vida, em especial do que eu e você deixamos lá atrás. Mas é impossível. Continuo tentando escrever um texto novo, bonito. Mas ai eu reparo que mesmo nos textos tristes onde seu nome se encontra em cada palavra e o sentimento de vazio se preenche em cada letra, sei que o texto é bonito, pois junto dele se encontra todo meu amor. E assim, depois de tanto tentar escrever um texto, descubro que falar de você é o texto da minha vida, minha história favorita, meu livro de cabeceira, meu dicionário, minha transmissão de sentimento, o rumo da minha vida, o começo da minha vida e o fim dela também. E assim, com você longe de mim. Com uma saudade daqui até o céu. Eu escrevo esse texto, que não é texto, mas é amor e pra mim é a mesma coisa. (Aryelly Cabral)