27 de julho de 2011

Roupa velha

Ele sempre foi aquele homem com cheiro de roupa nova e ao mesmo tempo aquele sapato lindo que te deixa nas alturas, mas machuca o dedo midinho sempre que a gente usa. Procurei a roupa e o sapato perfeito um bom tempo. Todas as roupas caiam mal e todos os sapatos tinham algum defeito. Ele foi aquele look perfeito que quando eu vi pela primeira vez eu desejei possuir. Tudo se encaixava bem, ele era meu número, meu gosto, meu desejo. Depois começou a folgar aqui e apertar ali, mas eu nunca deixei de vestir. Algumas muitas vezes eu o joguei dentro do armário e me arrependia em menos de uma semana. Tudo voltava a parecer perfeito até acontecer de novo. Ele passou a ser aquela roupa desbota, esgarçada, com cara de velha e muitos remendos. Tentava deixá-lo novo, como da vez que o vi e me apaixonei, mas roupa que rasga e remenda nunca fica igual. Era isso que tinha se transformado nosso amor. Amor surrado, remendado, desajeitado. O sapato machucava o pé todo, mas eu amava tanto. Me fazia tão bem quando saia, mesmo que ao chegar eu não aguentasse tanta dor. Então chegou o dia que eu me olhei no espelho e vi que eu era capaz de amar outra roupa. Aquela roupa com caimento perfeito que eu não precisasse fazer ajuste, a gente se ajustaria juntos. Eu não o guardei dentro do armário como faço com as roupas e calçados que eu amo e não me servem mais. Eu o guardei dentro do peito, embalado com papel de presente em um local fresco e arejado. Apaguei seu número da agenda e suas mensagens, mas ainda tem tudo gravado aqui na minha cabeça. Rasguei nossas fotos, mas ainda tenho muitas guardadas em pastas secretas do meu computador. Ainda não estou pronta para dá ele a alguma necessitada. Porque às vezes eu necessito dele. Eu ligo e nós choramos juntos e eu percebo porque o amei assim que o vi. Depois eu lembro porque tudo acabou e guardo ele lá no mesmo lugar. Não sei por quanto tempo meu armário interno (coração) aguenta tanto sentimento velho, pesado, triste e feio. Um dia eu faço uma faxina interna e jogo fora tudo que não me serve mais, dando espaço a sentimentos novos e perfeitos, se é que existem. Em quanto isso eu o deixo guardado, às vezes, quase sempre, eu tiro e mato a saudade e coloco de novo no lugar. Até o dia que alguém ocupar o espaço que ele deixou. Ocupando o armário, a casa e o coração. (Aryelly Cabral)

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