Eu não entendo

"A nossa dor acabou sendo toda a dor 

que fazia fila em mim para ser sentida." (Tati Bernardi)

Todos os dias antes de dormir eu me pergunto o que eu ainda preciso sentir pra então não sentir mais. Quanto mais eu penso, mas me dói. E quando eu penso que nem pensei tanto, dói do mesmo jeito. A gente se perdeu em um terremoto interno, onde houve mortos e feridos. O que existiu entre nós morreu e o que existia dentro de nós ficou ferido, por isso ainda dói. Eu tenho medo de deixar alguém cuidar. Tenho medo de outra pessoa conseguir o que você não conseguiu. O amor não se acaba, é isso que dizem. Então o que eu faço com o meu?

Eu ainda estou aqui, eu ainda sou sua. Mas eu preciso ser feliz por inteiro. Alguma coisa grita o tempo todo que eu posso ser feliz sem você. Que uma hora quando eu menos esperar o amor vai ta guardadinho em um lugar e que eu nunca mais vou abrir pra recolher os cacos que ainda restam. Quando essa dor passar vai ser tão bonito. Mas enquanto não passa só dói.

Agora tudo voltou a ser como era antes. Voltei a ser a criança que fica encolhida chorando nos braços da mãe porque não se sabe o que fazer. É como quando eu tinha oito anos e chorava porque tinha o pé grande e não podia fazer nada pra mudar. É isso que acontece hoje. Eu tenho um amor bem grande, mas não posso usá-lo. Dói saber que não se pode fazer nada, não se deve. Eu sei que eu posso chegar em casa, tomar um banho demorado, vestir uma roupa nova , sair e desejar alguém que não seja você, mas eu não quero. Eu quero você ao meu lado todos os dias. Eu quero você me chamando pra dormir e me acordando. Eu quero sua boca na minha nuca me fazendo sentir desejos. Eu quero sentir desejo toda vez que te olhar fazendo a barba. Eu quero você e ao mesmo tempo eu não quero.

Eu ando por ai levando um sorriso e poucas palavras. Porque minhas forças hoje estão trabalhando pra me manter em pé. Eu prefiro ficar calada e ter pensamentos só meus. Não quero falar pra todo mundo a dor que eu sinto que parece a dor do mundo inteiro. Eu quero chegar em qualquer lugar e vê nos olhos de todos que eles sentem inveja dessa felicidade desmentida e dessa postura de mulher independente. O que eu quero mesmo é chegar em casa e não pensar em você quando deitar na cama. Eu quero mesmo viver a vida sem lembrar o quanto era bom ter você por perto. Eu quero aceitar que ser feliz depende apenas de mim.

Quero deixar de achar todo o mundo idiota. Quero passar na frente de uma vitrine e não sentir aquela vontade louca de comprar, essa vontade que eu sinto sempre que estou triste. Quero que todo mundo deixe de sentir pena de mim. Quero que parem de perguntar se ele me procura, se eu procuro ele, quando a gente vai voltar. Quero deixar de vê um vazio em tudo que vejo. Quero deixar de fazer a minha vida ser parte desse vazio que virou meu mundo. Quero voltar a ouvir a música do mundo, porque desde então eu só consigo ouvir o barulho da minha dor. (Aryelly Cabral)