17 de janeiro de 2011

Carta para um velho amigo



Hoje por algum motivo lembrei de quando nós éramos melhores amigos. De como nós gostávamos de andar de mãos dadas por todos os lugares. De quanto nossas demonstrações públicas de afeto fazia o pessoal acreditar que existia uma amizade colorida entre nós. E como nós dávamos gargalhadas desse idiotas que não acreditavam que podia existir amizade verdadeira entre homem e mulher.

Lembrei das vezes que eu te mostrava a menina afim de você. De como eu me sentia em desenrolar a tal menina e do quanto eu me preocupava se ela tinha ciúmes da gente. Ai eu te dizia que ela podia imaginar que entre nós existia alguma coisa e você me respondia: oxe, se arrombe, devo nada a ela não. E eu ficava feliz, por você não se importar com esses julgamentos. E aquela sua namoradinha, que morria de ciúmes de mim e quando eu te falava isso você me dizia: oxe, eu mando já ela se arrombar, ela tem que entender que você veio antes. E eu sentia que você era o melhor amigo que alguém podia ter. E eu, sortuda, era sua melhor amiga.

Quantas vezes você me viu chorar por gostar do cara mais galinha da rua e você sem jeito tentava me consolar. E eu dizia sempre que não ia mais ficar com ele. Ai você me via com ele e com seu olhar já me dava uma bronca daquela, e eu perdia o dia em ver você chateado comigo. Quantas outras vezes você me viu chorar porque você brincava comigo como se eu fosse um menino? Ai você ficava morrendo de rir de mim e depois vinha tentando se desculpar. E você me chamava de loira, lenta e dizia que eu só tinha o tico, o teco não funcionava.

Quantas noites eu dormir com você. Quantas vezes varamos a noite falando qualquer coisa, que sempre rendia mais do que esperávamos. Quantas festas. Quantas saídas. Onde todo mundo sabia que se um estivesse, o outro estaria também. A gente era carne e unha. Mas daí, o destino fez a maldade de nos separar. Começou pela escola, onde a minha já não tinha mais graça sem ter meu companheiro de bagunça e risada gostosa. Arrumei um namorado que como sua namorada, morria de ciúmes da gente. A nossa casa passou a existir no mesmo lugar, mas parecia longe, tão longe. A internet fez o favor de nos manter unidos. Você continuava a saber da minha vida e eu da sua.

Então, eu magoei você profundamente. E eu fiz o favor de perder sua amizade. Chorei vários dias. Pedi perdão com o coração na mão com medo de um não. E você me perdoou. Mas daí, apareceu um novo amor e você me deixou. Eu deixei de ser a sua loira, a sua lenta, a sua amiga. Eu passei a ser só mais uma vizinha. Ela levou de mim o que ainda restava de uma velha amizade. Ela roubou a esperança que era mantida em mim de fazer tudo voltar a ser como era antes.

Eu quero que fique claro que eu ainda não me importo se acreditam que entre nós existia uma amizade colorida. Eu nunca vou ter um melhor amigo igual a você. Eu nunca vou deixar me tratarem como um menino, como eu deixei você me tratar. Eu não vou dividir a cama, a comida, a festa, a família, com alguém como eu dividi com você. Eu te confesso que lembrei de você e chorei. Falei de você e chorei. Mas eu sempre vou sorrir em lembrar que pra sempre eu vou ser sua primeira melhor amiga.
(Aryelly Cabral)

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