30 de abril de 2011

Medo igual morte


A única coisa no mundo que eu tenho certeza que irá acontecer é a morte. A única chegada que não posso evitar é a morte. O maior medo da minha vida é a morte. Tenho um medo absurdo da morte. Medo de ver as três mulheres da minha vida indo embora desse mundo. Não faço a mínima idéia do que farei se uma delas se for. Tenho um medo sem tamanho de ir embora e deixá-las aqui. Não sei se é pior vê um pedaço do meu coração morto ou morrer e deixar elas sofrendo. Quando eu penso em morte imagino morrendo com todas elas juntas, pra nenhuma sentir dor e para que todas vivam eternamente no mesmo lugar. Sem necessidade de falta, dor, choro e tristeza. Sei que é uma coisa estranha desejar isso, mas é a pura verdade. De tudo que eu possuo no mundo, elas são partes essenciais de mim. Quem me conhece sabe o amor supremo que sinto por minha irmã e minha avó. E o amor louco e sincero que sinto pela minha mãe. Sou capaz de matar alguém que toque em alguma delas, e não digo isso da boca pra fora não.
Outro dia prometi a uma amiga minha que iria escrever um texto pra ela. Sobre amor, na verdade sobre não amor. E hoje, diante da morte de uma parte dela eu decidi escrever esse texto. Minha amiga nunca namorou sério, de apresentar o namorado aos pais, e sair pra todo mundo ver, essas coisas. Minha amiga é daquelas pessoas difíceis de expor seus sentimentos, mas uma pessoa apaixonante pra quem a conhece de verdade. Hoje eu descobri o porquê do seu não amor. Minha amiga Joice ama algo que ninguém jamais irá destruir. Ama algo que nunca irá acabar. Algo que não se trai, não vai e volta. Uma coisa que fica pra sempre, sem fim. Minha amiga Joice deixou de amar um homem pra se amar e amar acima de tudo sua família louca. Joice hoje me mostrou que amar não é necessário ser algo relacionado ao prazer. Joice ama a raiz de todos os amores. Joice ama a família, o sangue, o laço, o nó.

Joice hoje sem me dizer uma palavra se quer me ensinou que não há amor mais bonito, mas supremo, mais verdadeiro, do que o amor da família.
Eu repito que tenho medo da morte. Não durmo quando chove muito imaginando que minha casa vai cair. Não entro em um banheiro do meu trabalho que tem uma caixa d’água de cimento em cima dele. Tô pensando seriamente em vender um apartamento que eu ainda nem moro, mas porque é no térreo e tenho medo que o prédio desabe e eu morra. Tenho medo de dormir e não acordar mais. E tenho mais medo ainda de vê alguma das mulheres da minha vida morta. Diferente de Joice, eu tenho um amor e também tenho medo de perde-lo eternamente. Com medo ou sem medo a morte vem, tenho que aceitar. Mas hoje a morte e a Joice me mostraram uma coisa, a morte é eterna pra quem não tem fé, e fé está transbordando dentro de mim. Percebi que não sentirei apenas pela morte de minhas três mulheres, sentirei dor, muita dor, por pessoa como Joice, que ama de verdade sem expor seus sentimentos e sofre de dor sem gritar pro mundo.  (Aryelly Cabral)

Um comentário:

  1. nossa... vocÊ falou da morte de uma jeito tão estranho, mas muito real.
    parabéns, melhorando os textos a cada dia.

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